quarta-feira, 31 de julho de 2019
Hora de conter a besta
Por Leandro Fortes, do Jornalistas pela Democracia
Está claro que conter e calar Jair Bolsonaro se tornou uma urgência civilizatória.
Com a frase sobre o pai do presidente da OAB, Bozo saiu da fase da demência, propriamente dita, para a da desumanidade, pura e simples.
Trata-se um animal de carga à frente de uma nação. O mais terrível é a impressão real de que ele sequer tem a dimensão da própria cretinice.
Mesmo se colocarmos cabresto e freio em sua boca medonha, e pô-lo, sob chicote, a carregar a enorme quantidade de esterco verbal que ele produz, Bolsonaro, ainda assim, permanecerá na ignorância.
Bozo é obcecado pela própria insensatez e não à toa. Cada vez que ele mexe a bocarra para arrotar absurdos, uma claque de dementes altamente motivados se contorce, zurra, relincha e muge, num êxtase freudiano.
São pessoas que sabiam, por avisadas continuadamente, que se tratava de uma cavalgadura simpatizante da tortura. Então, não adianta esperar nada delas.
Agora, a OAB tem a razão e a oportunidade para encabeçar um movimento de impeachment desta besta incontrolável.
O País precisa, ao menos, se recompor, para seguir adiante.
Quem diria...
Tiago dos Santos Rodrigues
A Rosana Pinheiro-Machado disse ontem [com ressalva, é verdade] que o "eu avisei" seria "sintoma da vaidade política descomprometida".
Uma palavrinha quanto a isso:
Primo Levi narra [logo no início do seu "A trégua"] que assim que foi liberto do campo de concentração de Auschwitz pelos soviéticos, viu nos olhos dos soldados soviéticos algo que não via no olhar dos soldados alemães:
Vergonha.
Os soldados soviéticos sentiram vergonha - não de si, mas pelos alemães - ao se depararem com o horror de Auschwitz.
E não podia ser diferente. O fascismo é a ausência de vergonha - não somente da própria, mas da vergonha "alheia". O fascista não se escandaliza, não enxerga limites e interdições morais, seja em si, seja nos outros.
O fascismo só se cria no meio de uma sociedade desavergonhada, no meio de gente desavergonhada. É necessário que aprendamos a ter vergonha. É preciso ensinar as pessoas a terem vergonha. É forçoso fazermos as pessoas passarem vergonha.
O "eu avisei" é, nesse sentido, pedagógico. As pessoas precisam passar vergonha em razão de suas ações errôneas, por suas ações censuráveis - como, por exemplo, dar apoio a quem promove toda a sorte de discriminações.
As pessoas precisam perceber o quão cegas se encontravam, precisam perceber que a barbárie estava diante de seus olhos, e elas, estúpidas, se negaram, culpavelmente, em enxergar.
É imperioso que se jogue isso na cara delas.
Vergonha. A política tem que ter vergonha. Só há decência e responsabilidade onde há vergonha, vergonha própria e vergonha alheia.
Acréscimo [1]: certamente que eu não sugiro aqui que se deva "humilhar" as pessoas. Uma pessoa envergonhada é diferente de uma pessoa humilhada - ainda que a segunda possa ser, às vezes, as duas ao mesmo tempo. É preciso saber usar o "tom", ter um pouco de tato e de noção.
A questão, para mim, é demarcar aos nossos irmãos e irmãs que há coisas inaceitáveis e censuráveis, que não se tratam de simples erros.
Se eu faço um cálculo matemático e por uma desatenção ou ignorância qualquer da fórmula dou como resultado um produto falso, isso é [estritamente] um "erro" - e errar é humano, é passível, é aceitável.
No entanto, admitir que possa haver "sacrifícios humanos" [e o discurso e a política do ódio, o discurso e a política de discriminação são isso: a admissão de sacrifícios humanos] não é "erro", é "pecado".
É falta moral, é falta ético-política, não se opta por isso [pura e simplesmente] em razão de "ignorância", mas por "falta de vergonha". Claro que há de se distinguir as pessoas: eu me refiro àquelas que realmente tinham um mínimo de consciência do que o bolsonarismo se tratava.
E há muitas pessoas que tinham consciência da coisa - e essa consciência não pode ficar tranquila. A consciência tranquila é a pior assassina que há.
Espiral de infâmias
Numa escalada sem precedentes de insultos às normas de convívio democrático, aos fatos históricos, às evidências científicas e aos direitos humanos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) aguçou nos últimos dias as tensões e incertezas em torno de sua administração.
Se no início de mandato declarações e medidas estapafúrdias ainda podiam, com boa vontade, ser vistas como tentativa de satisfazer o eleitorado mais fiel e ideológico, o que se verifica agora é um padrão de atitudes que ofendem o Estado de Direito, reforçam preconceitos e aprofundam as divisões políticas.
Além de expor o despreparo do chefe do Executivo para desempenhar suas funções num quadro de coexistência com as diferenças, a insistência na agressão e na boçalidade revela uma personalidade sombria que parece se reconhecer, com júbilo, nas trevas dos porões da ditadura militar.
As insinuações sórdidas acerca do pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz —morto, segundo as investigações, sob a guarda do poder autoritário—, são um exemplo da pequenez e da leviandade a que pode chegar o presidente.
Não espanta, aliás, que tenha classificado como “balela” documentos oficiais sobre abusos cometidos pelo regime. Já eram, afinal, conhecidos seus elogios ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, bem como suas simpatias pelas violações praticadas no submundo dos órgãos de repressão.
Enganou-se, infelizmente, quem esperou que a condição de presidente da República levaria o ex-deputado nanico a moderar o discurso e buscar alguma conciliação.
Pelo contrário, são os traços intolerantes e obscurantistas do mandatário que saltam aos olhos nos ataques e afirmações falsas dirigidos aos jornalistas Miriam Leitão e Glenn Greenwald, nas imposturas acerca do desmatamento da Amazônia, nas ameaças de censura ao cinema, no tratamento injurioso aos nordestinos e no desdém pelo massacre de presos no Pará.
Talvez transtornado com as críticas à indicação vexatória de um filho à embaixada em Washington, ou com as investigações que envolvem outro, Bolsonaro aprofunda a estratégia populista e acentua a retórica de confrontação.
Com índices de aprovação aquém dos obtidos por seus antecessores em igual período do mandato, o presidente desperta crescente apreensão quanto a seu desempenho nos anos vindouros.
Para alguns analistas, os destemperos verbais já começam a fornecer munição para um eventual enquadramento em crime de responsabilidade, por procedimentos incompatíveis com a dignidade, a honra e o decoro do cargo.
Não se vê nenhum movimento nesse sentido, e a perspectiva de reforma da Previdência dá fôlego ao governo. Entretanto a recente espiral de infâmias não poderá se perpetuar sem consequências.
editoriais@grupofolha.com.br
Bolsonaro não é democrata e não mudará; método é minar instituições
Ação de Maia fortalece freios e contrapesos; Dodge se omite
Kennedy Alencar
Ao desqualificar documentos e testemunhos oficiais sobre crimes da ditadura militar de 1964, chamando de “balela” o trabalho da Comissão da Verdade, o presidente Jair Bolsonaro falseia a história. Mente para tirar credibilidade das instituições.
É a mesma estratégia que ele usa em relação à imprensa. Cotidianamente, tenta minar a credibilidade de jornalistas e dos veículos de comunicação, porque assim fica mais fácil tomar medidas autoritárias.
Bolsonaro é um autocrata. Não é um democrata. Ele é assim e não vai mudar. Por trás do despreparo e da ignorância em assuntos de Estado, há método no comportamento presidencial. Caótico, mas há.
Ao tirar credibilidade da Comissão da Verdade, indagando quem acredita nas conclusões de uma investigação feita por um órgão de Estado entre 2012 e 2014, Bolsonaro vende uma mentira histórica que abre caminho, por exemplo, para que a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, negue mais de mil pedidos de reparações de vítimas da ditadura.
Bolsonaro tenta reescrever a História do Brasil por meio de mentiras e leviandades, o que afeta a memória do país e a cabeça das gerações mais jovens que não viveram a ditadura. Afeta também o que pensarão as gerações futuras. Joga na divisão do país.
É uma guerra cultural, como admitiu ontem numa rede social um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, citando a recomendação do escritor de extrema-direita e guru ideológico dessa filosofia de porões da ditadura.
A estratégia de guerra cultural, com fake news e estímulo à intolerância no debate público, é um método de populistas de direita e extrema-direita mundo afora, como faz, diariamente, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.
Esse método enfraquece as democracias. Ao normalizar absurdos no Brasil, nos EUA, na Hungria, líderes políticos minam as instituições democráticas. Normalizar absurdos é como as democracias morrem.
Ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça e primeiro coordenador da Comissão da Verdade, o advogado Gilson Dipp lembrou ontem em entrevista à jornalista Tatiana Vasconcellos, no “Estúdio CBN”, que o órgão que investigou crimes do Estado brasileiro foi criado pela lei federal 12.528 de 2011. Ouça a entrevista de Dipp e do ex-juiz e comentarista da CBN Wálter Maierovitch.
A Comissão da Verdade foi a etapa final de um processo longo de reparação histórica e civil que começou no governo Fernando Henrique Cardoso. As administrações Lula e Dilma deram seguimento à tarefa.
Em 1995, FHC pediu ao então ministro da Justiça, Nelson Jobim, e ao chefe de gabinete da pasta, José Gregori, que dessem o pontapé legal nesse processo de indenização às vítimas da ditadura e da busca por esclarecimentos para as torturas, assassinatos e desaparecimentos. Esses crimes foram cometidos por agentes do Estado brasileiro. Foram crimes da ditadura militar de 1964, período histórico abjeto sobre o qual os militares nunca fizeram um mea culpa.
Dipp lembrou que houve negociação com as Forças Armadas para criar a Comissão da Verdade. Mas, ao final dos trabalhos, militares não engoliram as conclusões da Comissão da Verdade e jogaram para derrubar Dilma Rousseff do poder. O fator militar teve peso, entre outros, no impeachment da presidente petista.
Para não normalizar absurdos, as instituições brasileiras precisam reagir por meio dos freios e contrapesos do sistema democrático. Só assim poderão ser contidos arroubos autoritários e medidas ilegais do governo Bolsonaro.
O STF (Supremo Tribunal Federal) tem de reagir.
O Congresso Nacional também. Quando Rodrigo Maia (DEM-RJ) divulga nas redes sociais uma mensagem em que apoia o direito constitucional de sigilo da fonte, numa menção clara às ameaças do governo Bolsonaro ao jornalista Glenn Greenwald, o presidente da Câmara usa os freios e contrapesos. Maia contribui para fortalecer a democracia no país.
A imprensa e as entidades da sociedade civil também precisam reagir, como fez a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Ouça a entrevista de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, dada ontem aos jornalistas Roberto Nonato e Évelin Argenta.
O Ministério Público Federal tem de reagir. Ontem, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão divulgou nota em que disse que “toda pessoa que tenha conhecimento do destino ou paradeiro da vítima e intencionalmente não o revele à Justiça pode ser, inclusive, considerada partícipe do delito”.
Foi resposta à afirmação cruel de Bolsonaro de que poderia contar ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, o que acontecera ao pai dele, Fernando Santa Cruz, um desaparecido de 64.
Mas, nesse caso, quem poderia por atribuição legal investigar e eventualmente denunciar o presidente da República por crime comum é a procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Até ontem, não se tinha notícia de ação de Dodge, que está interessada em ser reconduzida ao cargo por Bolsonaro.
Ao contrário da ação de Maia, a omissão de Dodge é uma falha do nosso sistema de pesos e contrapesos. Ela enfraquece a democracia.
O tempo está nublado em Brasília. Não se veem dias ensolarados adiante. A vida é dura, e cada autoridade pública tem de escolher como entrará para a História.
Ouça o comentário feito ontem no “Jornal da CBN – 2ª Edição”:
A realidade paralela de Bolsonaro
Elio Gaspari
Se Jair Bolsonaro conversasse com os septuagenários veteranos da “tigrada” da ditadura, não teria chamado o general da reserva Luiz Rocha Paiva de “melancia” (verde por fora, vermelho por dentro). Ele foi um dos principais colaboradores na manutenção do site Terrorismo Nunca Mais. Talvez também não tivesse sugerido que Fernando Santa Cruz, desaparecido desde 1974, quando tinha 26 anos, foi executado por militantes de esquerda. Fernando era o pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que tinha menos de 2 anos quando ele desapareceu.
O caso de Fernando Santa Cruz exemplifica, como poucos outros, o assassinato de uma pessoa que tinha vida legal, família constituída e domicílio conhecido. Ele morreu no último mês do governo Médici. A política de extermínio das organizações armadas brasileiras que agiam nas cidades já tinha esfriado, pois elas haviam sido esmigalhadas. Em novembro, um comando do DOI de São Paulo matou Sônia Maria Lopes de Moraes, da Ação Libertadora Nacional, e Antônio Carlos Bicalho Lana, que se escondiam no litoral paulista. Em dezembro, o Centro de Informações do Exército sequestrou em Buenos Aires e matou no Rio o ex-major Joaquim Pires Cerveira e João Batista Rita, que haviam militado na Vanguarda Popular Revolucionária. Depois disso, nada. (Do Natal de 1973 ao final de 1974, mataram cerca de 40 militantes do PCdoB nas matas do Araguaia, inclusive os que se renderam. Ou, numa realidade paralela, foram todos resgatados por um disco voador albanês) Nesse período, deu-se a decapitação da liderança do Partido Comunista, que não pegou em armas.
Fernando Santa Cruz havia sido preso no Recife em 1966, quando era menor de idade. Desde 1968 tinha vida legal. Trabalhou no Ministério do Interior e mudou-se para São Paulo, onde trabalhava no Departamento de Águas e Energia Elétrica. Durante o carnaval de 1974, Fernando estava no Rio e marcou um encontro com o amigo Eduardo Collier, militante da APML. Temia ser preso e falou disso com a família.
Um policial de apelido “Marechal” disse que ele estava preso num quartel da guarnição de São Paulo. Daí em diante, nada. A mãe de Fernando, Elzita Santa Cruz, morta há pouco, foi uma leoa e bateu em todas as portas. Os senadores Franco Montoro e Amaral Peixoto perguntaram pelo paradeiro de Fernando da tribuna da Casa. Elzita escreveu ao comandante da guarnição do Rio e ao marechal Juarez Távora. O velho tenente de 1930 enviou a carta ao general Golbery, chefe do Gabinete Civil do presidente Ernesto Geisel, que assumira em março. Meses depois, ela interpelou o próprio Golbery. Na busca por Fernando, teve a ajuda do marechal Cordeiro de Farias, comandante da Artilharia da FEB na Itália. Nada. O ministro da Justiça, Armando Falcão, informava que estava foragido, vivendo “na clandestinidade”. Mentira.
Nenhuma família de militante executado fingiu que ele desapareceu.
Bolsonaro pode ter sua realidade paralela, mas o general Rocha Paiva nunca foi “melancia”, nem Fernando Santa Cruz foi executado pela APML. Por falar nisso, Rubens Paiva não foi resgatado por comparsas. Quem diz isso são oficiais que estavam no quartel da PE do Rio em 1971.
O governador e o Pateta
Bernardo Mello Franco
Witzel prometeu trazer a Disney para a Sapucaí, mas não combinou com os americanos. Agora ele ameaça “prender maconheiro na praia”, apesar de a medida não ser prevista em lei
Wilson Witzel gosta de se fantasiar de xerife, mas às vezes aparece com outros figurinos. No carnaval, ele imitou o ex-prefeito Eduardo Paes e vestiu um chapéu Panamá para ir ao Sambódromo. Em vez de aplausos, ouviu uma sonora vaia das arquibancadas.
Apesar da estreia infeliz, o governador não desistiu da Sapucaí. Há três semanas, ele anunciou que pretende assumir o espaço, deixado ao deus-dará pelo bispo Marcelo Crivella. A turma do samba não teve tempo de festejar. O governador prometeu ocupar a passarela com o Mickey, o Pato Donald e a Cinderela.
“Queremos trazer o Disney Parade todo final de semana ali para o Sambódromo”, afirmou.
No início do ano, o governador Ibaneis Reis já havia prometido inaugurar um parque da Disney em Brasília. Foi desmentido pelos americanos e deixou o assunto para lá.
Ontem consultei a empresa sobre o factoide de Witzel. A Disney informou que não tem planos para o Rio nem manteve contato com o ex-juiz. O Pateta pode ser bobo, mas não gosta de concorrência.
Nesta semana, o governador esqueceu o mundo infantil e voltou a se fantasiar de Rambo. Na segunda-feira, ele disse que teria matado o morador de rua que esfaqueou duas vítimas na Lagoa.
“Se estivesse no lugar do policial, teria dado um tiro na cabeça dele”, afirmou.
Apesar do reparo, Witzel elogiou a ação da PM. Faltou dizer que uma das vítimas foi morta diante dos policiais. Eles ainda balearam três inocentes antes de prender o agressor, que portava uma faca de açougue.
Ontem o governador voltou a bancar o valentão. Em reunião com prefeitos, ele afirmou que vai começar a “prender maconheiro na praia”. “Quem estiver fumando maconha na praia, eu vou prender”, disse, segundo relato da colunista Berenice Seara.
Mais tarde, Witzel teve que ser lembrado de que a prisão de usuários foi trocada por penas alternativas, como advertência e prestação de serviços comunitários. Se o ex-juiz não conhece a lei, imagine o guarda da esquina.
Bolsonaro conduz o país aos porões da selvageria
Bruno Boghossian
Declarações repulsivas, baseadas na divisão e no ódio, são seu modo de governar
Aquele deputado falastrão que atacava minorias, exaltava torturadores e defendia a matança generalizada já fazia mal ao Brasil. Na cadeira de presidente, ele ameaça conduzir o país inteiro aos porões da degradação e da selvageria.
Jair Bolsonaro faz política há décadas usando a divisão e o ódio como combustíveis. Esse método produziu as declarações repulsivas que lhe renderam fama e, agora, integram sua maneira de governar.
O ataque grotesco ao presidente da OAB mostra que Bolsonaro está disposto a descer muitos degraus. Numa tentativa indecorosa de desqualificar Felipe Santa Cruz, ele passou a desfiar versões sobre o desaparecimento de seu pai na ditadura, sem respaldo em informações objetivas.
Bolsonaro trabalha o tempo todo para demonizar críticos, adversários, instituições que possam restringir seus movimentos ou qualquer um que sirva de contraponto ao governo. Tenta tratá-los como inimigos para despertar aversão a esses personagens entre seus apoiadores.
Esse é o primeiro recurso do presidente em momentos delicados. Serve para acusar ambientalistas de seguirem os interesses de ONGs estrangeiras, para negar apoio a governadores de partidos rivais ou para atribuir falsamente um crime a um jornalista que incomoda sua equipe.
O ódio muitas vezes atropela os deveres do governante. Na onda do "bandido morto", o presidente se recusou a comentar o massacre de 58 pessoas numa penitenciária do Pará. "Pergunta para as vítimas dos que morreram lá o que eles acham", ironizou. Ninguém esperava lágrimas pelos detentos, mas o desdém mostra que Bolsonaro prefere ignorar uma questão grave como a guerra de facções criminosas no país.
Pouco interessa se as palavras do presidente são manifestações genuínas ou se fazem parte de uma estratégia sofisticada. No poder, elas produzem efeitos práticos. Alimentam visões desumanas do mundo, reforçam seus instintos autoritários e revelam uma incapacidade evidente de lidar com os problemas nacionais.
Milico maluco que chamou Rosa Weber de corrupta faz vaquinha e não arrecada nada
No dicionário da direita não existe "solidariedade" |
Coronel que chamou Rosa Weber de corrupta faz vaquinha e não arrecada nada
Antônio Carlos Alves Correia queria angariar R$ 30 mil para pagar defesaGuilherme Amado
O coronel da reserva Antônio Carlos Alves Correia, que chamou a ministra do STF Rosa Weber de "corrupta" e "salafrária" durante as eleições, abriu uma vaquinha na internet para tentar arrecadar R$ 30 mil para ajudá-lo em sua defesa.
A Justiça Militar determinou que o coronel use tornozeleira eletrônica e mantenha distância dos ministros do STF.
Na vaquinha, que ficou aberta por três meses e não arrecadou um centavo, Alves afirma que é um "patriota inconformado com a implantação do comunismo e globalismo no Brasil pelo sistema corrupto da esquerda e aparelhamento dos poderes".
Afirma ser vítima por ter exercido sua liberdade de expressão e que foi incompreendido pela ministra, a quem também pede que retire o processo contra ele.
terça-feira, 30 de julho de 2019
Não houve eleição e não há presidente
Vladimir Safatle
O que vimos foi simplesmente um processo sem condição alguma de preencher critérios básicos de legitimidade. Ou seja, uma farsa
Desde que a opinião pública brasileira descobriu a natureza
das mensagens
trocadas entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan
Dallagnol ficou claro que não houve nada parecido a eleições minimamente
legítimas no ano de 2018. O que vimos foi simplesmente um processo sem condição
alguma de preencher critérios básicos de legitimidade. Ou seja, uma farsa,
mesmo para os padrões elásticos da democracia liberal.
Como todos sabem, as mensagens demonstraram algo cuja
descrição correta só pode ser uma rede de corrupção envolvendo membros do poder
judiciário. Pois é corrupção do estado toda ação feita tendo em vista a
distorção de procedimentos legais para benefício próprio. O sr. Moro e seus
asseclas utilizaram dinheiro público como se fosse privado (no caso do pedido
do sr. Dallagnol para uso de 38.000 reais da 13ª Vara para o pagamento de
campanha publicitária), aproveitaram-se financeiramente da condição de
servidores públicos com informações privilegiadas (ao, em meio a processo
envolvendo alguns dos maiores agentes econômicos nacionais, serem
pagos em palestras milionárias), tentaram tomar para si a gestão de
2,5 bilhões de reais da Petrobras por meio da criação de uma fundação privada:
tudo em nome ao combate à corrupção.
Como se isto não bastasse, o sr. Moro foi flagrado
“melhorando provas”, agindo juntamente com procuradores para fazer do
julgamento de um dos mais importantes casos da política brasileira uma simples
encenação. Pois todos, independente de quem sejam, têm o direito a um
julgamento justo e imparcial. Mas isto não aconteceu no caso que estava sob sua
jurisdição.
Seus apoiadores afirmam que era necessário “quebrar as
regras” para conseguir enfim combater o pior de todos os males que assola esse
país desde o momento que suas terras foram invadidas por portugueses, a saber,
a corrupção. No entanto, ninguém precisa acreditar nessa história cínica. Na
verdade, o sr. Moro quebrou todas as regras possíveis para benefício próprio,
ou seja, para prender o candidato à Presidência que impedia seu próprio projeto
pessoal de se tornar presidente em 2022. Ninguém que tem interesse pessoal em
um processo pode ser o juiz do mesmo. Mas como ninguém parou o sr. Moro, ele
pode ser agora catapultado para o centro da política brasileira pelas mãos de
um político que ele, mais do que ninguém, elegeu ao tirar o primeiro colocado
de circulação, ao alimentar o noticiário com notícias construídas tendo em
vista o calendário eleitoral. Que ninguém se engane. Este senhor já está em
campanha, sua mulher já está em campanha, seus apoiadores já estão em campanha.
Por outro lado, não precisou mais do que sete meses para o
Governo que ele ajudou a eleger demonstrasse sua própria rede de corrupção.
Casos de financiamento ilegal no partido deste que ocupa a Presidência,
envolvimento de seu filho senador em desvios de verba de gabinete, envolvimento
de sua família com milícias. A lista não é pequena.
O erro do miliciano
ATÉ TRANSBORDAR
Moisés Mendes
O exibicionismo de Bolsonaro como amigo íntimo de torturadores e assassinos da ditadura pode ter sido seu maior erro até aqui.
Antigos aliados do 'centro' estão abandonando o apoio envergonhado que davam ao aprendiz de ditador. Saltam fora e avisam que não dá mais pra conviver com as asneiras e a agressividade do homem.
A lixeira das redes sociais está lotada de fotos de cúmplices de Bolsonaro que se afastam do amigo de Brilhante Ustra e deletam as provas de que se adoravam.
Bolsonaro ficará agarrado aos filhos, a Olavo de Carvalho, a Merval Pereira e a Diogo Mainardi. E talvez à Globo.
Não sobrará mais nada para Bolsonaro, que acaba criando constrangimentos também para os militares que estão no governo e mais ainda para os que estão fora do poder.
Bolsonaro mexeu com um trauma que os mais habilidosos políticos da direita preferem esquecer, porque não ganham nada com isso. Mas Bolsonaro acha que ganha.
Amanhã tem mais, até transbordar.
Rodrigo Maia joga Moro e Dallagnol ao mar
Rodrigo Maia crava o 1° prego no caixão da carreira política de Sérgio Moro; aquele que, quando juiz, gravou Dilma ilegalmente e ainda divulgou: pic.twitter.com/m9ELc4jBxN— Lorde Inglês (@syk4ryo) July 30, 2019
🎥 Rodrigo Maia faz vídeo de apoio a Glenn Greenwald e diz que vazamento de hackers são tão criminosos quanto os de agentes públicos. Maia também defendeu o direito de jornalistas de publicarem as informações.— UOL (@UOL) July 30, 2019
Créditos: The Intercept Brasil pic.twitter.com/0m05CslvLD
Arararraquers não têm nada a ver com hackers
Cora Rónai
Como todo mundo que foi para a internet quando aquilo lá era tudo mato, eu também me ressinto de ouvir a palavra "hacker" aplicada a alguns borra botas que, provavelmente, nem HTML conhecem. No começo do mundo, isto é, ali pelos anos 1980, hackers eram pessoas que tinham mais interesse em saber como as coisas funcionavam do que em tocar fogo no circo.
Hackers eram programadores e escovadores de bits, que é como se chamavam as pessoas que não conseguiam deixar em paz o software do seu computador, gente que queria descobrir não só como aquele universo relativamente novo funcionava, mas também quais eram as suas falhas, e até onde se podia ir sem que ninguém percebesse.
Com o tempo, muitos hackers começaram a usar o seu conhecimento para o mal, e isso acabou dando um mau nome à atividade; mas hackers de verdade são, de fato, pessoas excepcionalmente habilidosas, e não gente como esses arararraquers, que apenas usam receitas desenvolvidas por outros.
Para a cultura hacker, os arararraquers são script kiddies, moleques sem talento e sem conhecimento técnico que usam scripts disponíveis na internet. Chamar um script kid de hacker é o que há de mais parecido com um sacrilégio para o povo do meu tempo.
Hacker era, por exemplo, Robert Morris, que estava estudando em Cornell quando infectou parte da internet com o primeiro worm de que se tem notícia. Um worm é um programa malicioso que se instala nos sistemas e se multiplica sozinho, hoje em geral com o intuito de roubar dados dos usuários. Em 1988, a ideia de Morris era descobrir o real tamanho da internet - mas um erro no seu script derrubou quase seis mil computadores, o que, na época, correspondia a dez por cento de toda a rede.
Morris foi a primeira pessoa processada e condenada pelo então recente Computer Fraud and Abuse Act. Prestou 400 horas de serviço à comunidade e pagou uma multa salgadíssima, mas hoje é professor titular de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação no MIT.
O mais famoso de todos os hackers de verdade é Kevin Mitnick, que ficaria mortalmente ofendido se fosse comparado com os manés que invadiram os celulares das nossas autoridades. Mitnick tinha 16 anos quando entrou ilegalmente no sistema da DEC e copiou o seu sistema operacional. Foi condenado por isso e passou um ano na cadeia, mas em seguida hackeou o sistema de correio de voz da Pacific Bell, o que pôs o FBI no seu encalço.
Mitnick passou dois anos e meio fugindo da lei -- usando, já então, celulares clonados -- e só foi preso, em 1995, porque um outro hacker, Tsutomu Shimomura, conseguiu rastreá-lo. Ele recebeu uma pena pesada e injusta de cinco anos, virou uma espécie de herói da contracultura e tem, hoje, uma bem sucedida empresa de segurança digital.
Ele é também um dos diretores da Zimperium, empresa especializada em segurança móvel conhecida pelo seu sistema de prevenção de invasões em, ora vejam, aparelhos celulares.
Se a turma da Lava-Jato tivesse tido uma conversa séria com Kevin Mitnick antes de sair trocando mensagens nos seus smartphones, os arararraquers continuariam em liberdade, praticando os seus golpinhos sem maiores consequências, e a própria história do país seria diferente.
Hackers de verdade ficariam ofendidos com os “arararraquers”
Os hackers que entraram para a história demonstraram ser pessoas habilidosas e com curiosidade e competência para atuar nas redes. Mesmo os que foram punidos, jamais chegaram perto de receber a sanção que a PF ameaça dar aos presos na Operação Spoofing
Por Jornal GGN
Cora Ronai divulgou artigo em
O Globo de segunda (29) lembrando de hackers que marcaram a história da
internet. Eles ficariam “mortalmente ofendidos” se soubessem que a Polícia
Federal e Sergio Moro, na Operação Spoofing, consideram os 4 hackers de
Araraquara (SP) perigosíssimos para a Nação.
Hackers, no início dos tempos de
popularização da internet (lá pelos anos 1980), eram pessoas habilidosas com
extrema curiosidade sobre o funcionamento da rede. Algumas ações que foram
consideradas criminosas e punidas na Justiça foram, a priori, tentativas de
descobrir falhas, por exemplo.
“Hacker era, por exemplo, Robert
Morris, que estava estudando em Cornell quando infectou parte da internet com o
primeiro worm de que se tem notícia. Um worm é um programa malicioso que se
instala nos sistemas e se multiplica sozinho, hoje em geral com o intuito de
roubar dados dos usuários. Em 1988, a ideia de Morris era descobrir o real
tamanho da internet – mas um erro no seu script derrubou quase seis mil
computadores, o que, na época, correspondia a dez por cento de toda a rede”,
lembrou.
“Morris foi a primeira pessoa
processada e condenada pelo então recente Computer Fraud and Abuse
Act. Prestou 400 horas de serviço à comunidade e pagou uma multa
salgadíssima, mas hoje é professor titular de Engenharia Elétrica e Ciência da
Computação no MIT”, acrescentou.
Enquanto isso, aqui no Brasil, a
invasão de celulares de autoridades pelo grupo de hackers de Araraquara faz a
PF considerar um tempo de prisão que beira os 70 anos. É o que informou o
jornal O Globo nesta terça (30): que o enquadramento penal será utilizado,
contrariando jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, para assustar o
suspeito Walter Delgatti e fazê-lo colaborar com os investigadores, confessando
mais detalhes sobre suas invasões.
Impeachment ou interdição é necessidade imediata
O presidente sem decoro
Bernardo Mello Franco
Ao ofender a memória de mais uma vítima da ditadura militar, Bolsonaro voltou a cruzar o limite da decência. A previsão de que ele respeitaria o cargo de presidente estavam furadas
Jair Bolsonaro nunca respeitou a memória das vítimas da ditadura. O capitão se projetou na política como porta-voz dos porões. Notabilizou-se por defender a tortura, insultar os mortos, mentir sobre fatos históricos.
Quando a Câmara homenageou Rubens Paiva, o então deputado cuspiu no busto diante da família. Quando a Justiça Federal ordenou a busca por restos mortais no Araguaia, ele disse que “quem procura osso é cachorro”.
Na votação do impeachment, Bolsonaro exaltou um torturador em rede nacional. Na campanha presidencial, ironizou o assassinato de Vladimir Herzog. “Suicídio acontece”, debochou.
O jornalista foi morto numa cela do DOI-Codi, e os militares alteraram a cena do crime para simular um enforcamento.
No fim de 2018, houve quem apostasse numa guinada do presidente rumo ao equilíbrio e à moderação. Ao assumir o poder, ele abandonaria o radicalismo e passaria a respeitara liturgia do cargo. Os fatos têm demonstra do que essa previsão era furada.
Quase todos os dias, o presidente tem disseminado ódio e preconceito. Ontem, ao ofendera memória de Fernando Santa Cruz, voltou a cruzar o limite da decência. O então estudante tinha 26 anos quando foi capturado pela repressão.
Era pai de um bebê de 2 anos, hoje presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. Sua mãe, Elzita Santa Cruz, peregrinou por mais de quatro décadas em busca da verdade. Ela não mudou de endereço nem de número de telefone, à espera de notícias que nunca chegaram. Morreu no mês passado, aos 105 anos, sem conhecer o paradeiro do filho.
Ontem Bolsonaro falou duas vezes sobre o caso. De manhã, para atingir o presidente da OAB, disse saber como o pai dele desapareceu. “Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”, provocou.
À tarde, afirmou que Santa Cruz foi morto por outros militantes de esquerda. A versão é desmentida por documentos oficiais: ele estava sob custódia do regime quando desapareceu.
A lei 1.079, de 1950, tipifica os crimes de responsabilidade passíveis de impeachment do presidente da República. Diz o artigo 9º, VII: “Proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”.
Saída imediata de Bolsonaro é questão de salvação nacional
Presidência subversiva
O termo “subversão” foi muito usado no século 20. Nas grandes potências, subversivos eram os coletivos, grupos ou indivíduos que pusessem o Estado em perigo. Eles poderiam estar à direita ideológica ou à esquerda. Um inimigo na URSS era campeão democrático no Ocidente. No Brasil, desde Vargas a palavra indica os setores liberais que não aceitam regimes de exceção (foi o caso do jornal O Estado de S. Paulo, após as ditaduras mostrarem a face efetiva) e as correntes de esquerda, armadas ou não. Singularidades semânticas ajudaram a impor, em 1964, um Estado oposto ao direito. Para não o confundir com os golpes sofridos na América do Sul, os dirigentes nomeiam o seu movimento como “revolução”. O desmonte do Estado de Direito recebe nome certo – revolução –, mas unido ao complemento que o atenua: a revolução é “redentora” porque o Estado e a sociedade retornariam à lei e à ordem, sem desafios ao poder constituído.
“Subversão” já aparece em decreto de Henrique VIII contra os católicos que desejariam “restaurar o reinado usurpador e o poder do bispo de Roma”. A desobediência ao monarca significaria “subverter e derrubar os sacramentos da Santa Igreja e o poder e autoridade dos príncipes e magistrados” (P. Hughes e J. Larkin, Tudor Royal Proclamations). Na Alemanha surgem choques sangrentos, mesmo após os acordos sobre ocuius regio, eius religio. Na França, cidadelas são concedidas aos protestantes. Mas as tensões aumentam até a Noite de São Bartolomeu. O rei, pouco seguro no poder, arma o ataque. O evento é elogiado por Gabriel Naudé como um bom golpe de Estado: o medo da violência real leva o s beligerantes à obediência. Governos prudentes não solapam a própria autoridade, pois ela depende de um cálculo complexo. Nenhuma ditadura unipessoal, nem sequer a de César, permanece incólume mesmo tendo apoio cúmplice do Parlamento ou Justiça.
O atual presidente da República brasileira ignora o pretérito que define o Estado. O primeiro valor de toda forma estatal reside na hierarquia de funções e autoridade no emprego de pelo menos três monopólios: o da força, da norma jurídica, dos impostos. A partir daí seguem as prerrogativas do poder na vida pública, da educação à saúde, desta à soberania sobre a sociedade civil. O presidente minou a autoridade dos encarregados pela força, os generais que aceitaram integrar o seu governo. Elias Canetti fornece uma chave para a compreensão das Forças Armadas: a sentinela exemplifica a constituição psíquica do soldado. Os motivos habituais de ação, como os desejos, o temor e a inquietude, são nele reprimidos. Todo ato seu vem de uma ordem. O momento vital no militar é a postura atenta diante do superior. Para ele, a ordem tem valor supremo. O uniforme evidencia a perfeita igualdade de todos na obediência às ordens.
A disciplina define a honra do soldado, na ordem e na promoção. Esta última responde à capacidade de um militar para ser movido pela ordem. Em cada ordem obedecida fica nele um espinho. Se é soldado raso, não pode desfazer-se dos espinhos. Para sair desse estado espera a promoção. No plano superior ele se desfaz - nos outros - dos espinhos/ordens. O alto comando é o que menos ordens recebe, mas é submetido à máxima autoridade estatal. É absurdo para o soldado que chega ao posto de general imaginar que suas próprias ordens não serão acatadas. Se o chefe supremo tolera ataques contra generais (mesmo os que deixaram a ativa), a instituição desliza para a indisciplina. Em prazo curto as Forças Armadas sentem que a dissolução da autoridade as leva ao ponto zero. Perde-se o controle do monopólio da força pelo Estado. A subversão vinda de cima cumpre o seu papel desagregador.
No relativo à norma jurídica, o presidente assume atitude subversora. Ao proclamar como seu candidato ao STF um “terrível evangélico”, ele põe abaixo a disciplina republicana. Esta exige dos candidatos aos postos oficiais “os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência” (Constituição, artigo 37). Em nenhum desses itens lemos “crença religiosa”. Ao optar por um candidato pela sua fé, algo subjetivo, o presidente objetivamente subtrai de todos os não evangélicos o direito de exercer cargos públicos. A subversão em favor de seitas leva os Estados às guerras civis, ao ódio desagregador.
Subversão da ordem pública vem na escolha de Eduardo Bolsonaro para o cargo de embaixador. Os mandamentos da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência são estraçalhados num só golpe. Como as Forças Armadas, o Itamaraty segue a disciplina em ritos e regras de acesso à carreira e à promoção. Quebrado o comando surge a anomia em setor estratégico do Estado. Aristóteles indica a família como um passo na constituição política. Com o presidente do Brasil, a sua família paira sobre o Estado, gerando subversão. Nem o regime Vargas e menos ainda o de 1964 ousaram tal façanha.
No caso dos generais, poucos apoios notamos a eles quando humilhados pelos fiéis do presidente, dirigidos por seu filho vereador. No STF a ordem é agredida em detrimento da cidadania. A proclamação do candidato evangélico foi efetivada em culto religioso no edifício do Legislativo. Uso contrário à lei, próprio de subversivos. No Itamaraty o feito mostra que a disciplina desaparece. Recordemos: foram tão lenientes os senadores de Roma diante dos abusos subversivos de César, que eles foram eliminados sem respeito algum, apesar de suas alvas togas. O mesmo acontece com as nossas togas verde-oliva ou negras.
Para finalizar, o presidente subverte o pacto federativo ao dizer que certos dirigentes de Estado devem ser excluídos dos benefícios a que têm direito. Juízes, militares, governadores, universidades: instituições fundadas na hierarquia e na autoridade. Se quem deve preservar tais valores os corrói, surge o caos. E do caos ninguém retorna.
O atual presidente da República brasileira ignora o pretérito que define o Estado.
Governo de milicianos não tem futuro
Bolsonaro e o bolsonarismo não têm
a tendência de repetirem os ciclos autoritários anteriores por vários motivos.
Quando investigamos os ciclos de 1935-1945 e 1964-1985 constatamos que foram
ditaduras de direita dentro de um padrão nacional-desenvolvimentista,
perseguindo as esquerdas, mas apresentando crescimento econômico, construção
estatal e mesmo políticas sociais dentro de margens limitadas. O bolsonarismo
apenas repete de maneira piorada o modelo de neoliberalismo de rapina de uma
ditadura de um país pequeno, o Chile e é muito pior porque os cleptocratas
chilenos golpistas sempre preservaram a exploração estatal do cobre,
nacionalizada por Allende, o principal recurso do país, orçamento para o Estado
e exército locais, como rendimento público da Codelco, isso mesmo, a ditadura
de Pinochet se financiou com a nacionalização anterior do cobre chileno pela
esquerda! Já o bolsonarismo é totalmente entreguista como demonstra nas
aposentadorias e no saque da Petrobras e da lucrativa BR Distribuidora, as pressões
pela abertura da mineração selvagem, o saque e violência contra indígenas e
populações tradicionais. O bolsonarismo derivado do golpista Temer aprofunda o
desmonte trabalhista, o arrocho salarial e o desemprego, um capitalismo sem
consumidor e sem consumo popular, servindo somente para as grandes corporações
empresariais, as elites estatais nas mamatas da magistratura, nas forças
armadas, nos cartórios e na grande mídia, o que a curto e médio prazo é
politicamente inviável e somente produzirá uma grande explosão social pela
concentração de renda, pelo desmonte das políticas sociais, ataques e
congelamentos dos recursos na educação, saúde e privatizações de rapina.
Com Bolsonaro, o Brasil atravessa o Rubicão
Ranier Bragon
No ano 49 antes de Cristo, Júlio César violou as leis romanas e cruzou o rio Rubicão com o seu exército, dando início à guerra e à expressão que se consagrou como sinônimo de decisão que não tem volta.
Mais de 2.000 anos depois, o Brasil atravessou o seu Rubicão particular ao eleger presidente uma pessoa com o preparo, as propostas, o passado, o nível intelectual, a moral e o humanismo de Jair Bolsonaro.
O regime democrático que permitiu tal decisão dará uma extraordinária demonstração de solidez e perpetuidade se suas instituições republicanas não só resistirem, mas derem respostas firmes e destemidas ao que estamos presenciando. Ou caminhará para o pântano do atraso e do obscurantismo. Não há volta.
Bolsonaro testa os limites. A cada nova entrevista, novo ato, tateia até onde pode avançar a cruzada medievalista —e não importa se ela é involuntária ou calculada para animar fanáticos e criar cortinas de fumaça.
Na manhã desta segunda (29), prosseguindo no seu campeonato de manifestações abjetas, atacou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz. Em vez de se limitar a apontar os eventuais equívocos que diz ver na ação do dirigente —alguns escorados em afirmações mentirosas, como é seu hábito—, insinuou leviandades sobre o desaparecimento, na ditadura militar, do pai do advogado. Santa Cruz, à época, era um bebê de menos de dois anos de idade.
Não é arroubo esporádico. No sábado, por exemplo, afirmou que meio ambiente só interessa a veganos. O que o dito ministro do Meio Ambiente acha disso, é um mistério. Ricardo Salles foi acometido de momentânea mudez, assim como o faz em casos similares o colega que pendurou a toga e a biografia para abraçar indelevelmente o bolsonarismo.
Não serão os aduladores que darão resposta aos despautérios do presidente. Espera-se isso das instituições e dos que, dentro ou fora delas, se contrapõem à marcha da insensatez. A qualidade dessa ação definirá qual país emergirá lá na frente.
Bolsonaro cometeu crime comum ou de responsabilidade
Presidente diz saber como morreu desaparecido político de 64
O presidente Jair Bolsonaro cometeu hoje um crime comum ou de responsabilidade ao falar do desaparecimento de Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.
Um presidente da República não pode se comportar com tanta irresponsabilidade, pequenez e vilania. Ao falar do caso Adélio na manhã de hoje, Bolsonaro atacou gratuitamente o presidente da OAB e a memória do pai dele, desaparecido na ditadura militar de 1964.
De tarde, o presidente da República conseguiu piorar o que já havia dito. O presidente, que afirmara de manhã saber como o pai de Felipe havia morrido e que poderia contar tais circunstâncias ao presidente da OAB, insinuou de tarde que houve justiçamento por traição. Militantes de esquerda que lutaram contra a ditadura teriam assassinado Fernando Santa Cruz.
Bolsonaro agrediu a memória de Fernando Santa Cruz e, de acordo com a Comissão da Verdade e documentos oficiais, mentiu. A Comissão da Verdade concluiu que o pai do presidente da OAB foi morto por agentes do Estado brasileiro.
Por que Bolsonaro cometeu crimes comum e de responsabilidade?
Se sabe mesmo como Fernando Santa Cruz desapareceu, tem de contar, sob pena de acobertar um crime, escondendo informações. Nesse caso, trata-se de crime comum. A PGR (Procuradoria Geral da República) poderia tomar providências.
Se não sabe ou se mentiu, como é o padrão da maior autoridade pública do país, Bolsonaro agiu com leviandade e crueldade que ferem o decoro do cargo.
A lei 1.079 de 10 de abril de 1950, a Lei do Impeachment, define crimes de responsabilidade do presidente da República e ministros de Estado. No artigo 9º, que versa sobre “crimes de responsabilidade contra a probidade na administração”, o inciso 7 prevê o seguinte: “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”. Nesse caso, ocorreu um crime de responsabilidade.
O impechment é um processo político e jurídico. Hoje, no Congresso, não há clima para derrubar o presidente da República. Bolsonaro tem a sorte de que Rodrigo Maia (DEM-RJ) está sentado na cadeira de presidente da Câmara. Dilma Rousseff teve o azar de ver Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ocupar tal posição.
Logo, falar em impeachment é irreal nas atuais condições de temperatura e pressão no Parlamento. Mas é importante não normalizar absurdos. É assim que as democracias morrem.
*
História do Brasil
As Forças Armadas ainda vão pagar um preço alto em termos de imagem. Ancoradas na Lei da Anistia, que permitiu a militares fugir da responsabilização por crimes de Estado, Exército, Marinha e Aeronáutica poderiam ter feito um mea culpa político a respeito da ditadura de 1964.
Mas preferiram, por contrariedade com a Comissão da Verdade, jogar a favor do impeachment de Dilma. E agora, associaram sua imagem àquele que o general-presidente Ernesto Geisel julgava um “mau militar” e que age com vileza na Presidência da República. A opinião de Geisel sobre Bolsonaro consta do acervo da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Ouça o comentário feito hoje no “Jornal da CBN – 2ª Edição”:
Bolsonaro continua sendo o mesmo terrorista de sempre
Leio aqui ou ali que o presidente rompeu ontem a fronteira do tolerável. Ontem? O sujeito cuspiu no busto de Rubens Paiva, elogiou Ustra no parlamento, defendeu tortura e execução na TV. Ele sempre operou no campo do horror e da barbárie. Sempre.
Luiz Antônio Simas
segunda-feira, 29 de julho de 2019
Relatório da Aeronáutica desmente miliciano fascista sobre vítima da ditadura
Relatório da Aeronáutica desmente Bolsonaro sobre vítima da ditadura
Bernardo Mello Franco
Bernardo Mello Franco
Um documento secreto da Aeronáutica desmente a versão de Jair Bolsonaro para o desaparecimento de Fernando Santa Cruz, morto em 1974 pela ditadura militar.
Nesta segunda-feira, o presidente disse que o estudante, pai do presidente da OAB Felipe Santa Cruz, teria sido assassinado por outros militantes de esquerda.
— Não foram os militares que mataram ele não, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece — disse.
Segundo a versão de Bolsonaro, Santa Cruz teria sido morto por outros militantes da Ação Popular, uma das organizações que combatiam a ditadura.
No entanto, o relatório secreto RPB 655, do Comando Costeiro da Aeronáutica, atesta que o estudante foi preso pelo regime em 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro.
O documento, anexado ao relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), comprova que Santa Cruz estava sob custódia do Estado quando foi assassinado.
Em depoimento à CNV, o ex-delegado Cláudio Guerra disse que o corpo teria sido incinerado na Usina Cambahyba, em Campos.
A família de Santa Cruz nunca recebeu informações oficiais sobre o paradeiro de Fernando. Em 1995, o nome dele foi incluído na Lei dos Desaparecidos Políticos, sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Veja a seguir o trecho do relatório que cita a prisão de Fernando Santa Cruz:
Privacidade Hackeada
Cristóvão Feil
A ESCALADA CIENTÍFICA DA EXTREMA DIREITA
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#OwnYourData
Mais informações, aqui: https://en.wikipedia.org/wiki/SCL_Group
A ESCALADA CIENTÍFICA DA EXTREMA DIREITA
Quero comentar brevemente acerca de um documentário que assisti semana passada no Netflix, e recomendo. Refiro-me a "The Great Hack" ("Privacidade Hackeada", em português).
Trata-se da ascensão e queda da empresa Cambridge Analytica SCL (depois explico esse SCL). Como acabei de sugerir, a Cambridge "morre" no final.
O dono desta fatídica firma de cleptocracia digital (ou agência de modificação de comportamento, como vocês quiserem) foi o igualmente fatídico e sinistro Steve Bannon, o bruxo por trás da candidatura Donald Trump, e líder de um movimento mundial de re-classificação político-moral da extrema direita no mundo inteiro.
Bannon é o formulador da chamada Doutrina Breitbart, e divulga suas tolices ultra-direitistas, supremacistas e plutocratas (essa parte ele esconde) através de um portal internacional chamado "Breitbart News" (tem versão em português/Brasil). A consigna máxima da insana Breitbart é a seguinte: "Para mudar a base de uma sociedade, você precisa destruí-la, para remoldá-la novamente". [Agora se pode entender o objetivo das barbaridades proferidas, tanto de Trump, quanto de Bolso e sua família.] Afinal, o Mefistófeles de Goethe (o demo) não afirmava que "Tudo o que existe merece perecer"?
A SCL (Strategic Communication Laboratories) começou como "SCL Defense" e operava com a indústria da guerra, treinando mercenários, e fornecendo equipamentos e informação para governos, sobretudo UK e EUA.
Como o negócio de captura de dados pessoais é mais rentável, eles reciclaram suas atividades e a deslocaram para um objeto mais lucrativo a curto prazo.
A analista-operadora da Cambridge que depõe para o vídeo-documentário, Brittany Kaiser, afirma que os "dados são os recursos mais valiosos da terra" (vide Facebook e Google).
Diz Brittany: "O que faz o Facebook senão monetizar os dados que recolhe de você?" E completa: "Os dados são de propriedade pessoal dos indivíduos, e as redes não remuneram ninguém, mas se apropriam e monetizam suas informações".
A Cambridge Analytica usava dados do FB para identificar de quatro a cinco mil "pontos de dados" (como chamam) de cada pessoa objeto dos seus estudos laboratoriais. A partir disto, eles passavam a enviar uma enxurrada de material de propaganda político-eleitoral no sentido de trazer aquele potencial eleitor para o lado de Trump. O mesmo aconteceu no Brexit britânico, com vitória da extrema direita que aspirava a saída da UK da União Europeia.
O Brasil também é citado no documentário, que classifica a vitória de Bolsonaro como uma vitória da extrema direita no Hemisfério Sul.
O vídeo-documentário tem 1h 54 min.
Depois de assistí-lo, nós ficamos mais amargos, mesmo sabendo que a Cambridge "morreu" em 2018. Mas Bannon, Bolso, Trump, Boris Johnson ainda estão bem vivos.
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#OwnYourData
Mais informações, aqui: https://en.wikipedia.org/wiki/SCL_Group
Bolsodoria condena declaração criminosa de Bolsonaro
Doria chama de 'inaceitável' declaração de Bolsonaro sobre pai de presidente da OAB
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou na tarde desta segunda-feira (29) a declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre o desaparecimento do pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.
"É inaceitável que um presidente da República se manifeste da forma que se manifestou em relação ao pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Foi uma declaração infeliz", afirmou Doria, em evento de anúncio de investimentos de uma companhia de celulose no estado, no Palácio dos Bandeirantes.
"Não posso silenciar diante desse fato. Eu sou filho de um deputado federal cassado pelo golpe de 1964 e vivi o exílio com meu pai, que perdeu quase tudo na vida em 10 anos de exílio pela ditadura militar", disse o governador.
Ao reclamar sobre a atuação da OAB na investigação do caso de Adélio Bispo, autor do atentado à faca do qual foi alvo, Bolsonaro disse que poderia explicar ao presidente da entidade como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985).
"Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele."
Bolsonaro é um dos piores seres que uma combinação desastrosa de DNA já gerou
Você é um canalha, Jair Bolsonaro. Um desgraçado. Um merda. Um desperdício de pele, carbono e oxigênio. Um rato em forma humana (ou "humana", já que essa sua cara repugnante parece um molde de Hitler que ficou exposto ao sol e começou a derreter).
Não há limite para as baixarias de Jair Bolsonaro. Ele é simplesmente um dos piores seres que uma combinação desastrosa de DNA já gerou. O que ele disse sobre o pai do presidente da OAB é reflexo de um caráter sociopático, de uma mente há muito apodrecida pelo ódio e pela burrice.
A imundície representada por esse cara já atingiu um nível que permite, sim, que julguemos aqueles que ainda o apoiam. Se você segue aplaudindo essa representação "humana" de Chernobyl chamada
Jair Bolsonaro, você é no mínimo - no mínimo! - uma versão de Fukushima.
Vá se foder, seu verme.
Pablo Villaça
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